domingo, 16 de maio de 2010

CONCEPÇÃO DE INFÂNCIA

Blog da Lyu



1. Construindo uma Concepção de Infância

A concepção de infância, tal como a conhecemos hoje, é um conceito relativamente novo. A noção de infância é um produto da evolução histórica das sociedades. Os significados e a valorização da infância não ocorreram sempre da mesma maneira, mas são construídos e modificados de acordo com a organização de cada sociedade. "Quando falamos em criança, pensamos num sujeito marcado pelos atravessamentos culturais, políticos e ideológicos de uma determinada classe social, numa determinada sociedade, numa certa época" (PILLAR, 2001, p.22). Ainda hoje, esta concepção não está pronta e acabada, mas continua sendo construída.

Ainda hoje é possível verificarmos concepções diferentes da nossa concepção acerca da infância. A edição n. 215 da revista Época mostrou isso quando noticiou o tratamento às crianças na China. Essa reportagem pode ser acessada pelo endereço: http://epoca.globo.com/edic/215/mundochinaa.htm
Seguem abaixo nomes de alguns dos grandes pensadores que contribuíram para a construção da concepção atual de infância.

Seguem abaixo nomes de alguns dos grandes pensadores que contribuíram para a construção da concepção atual de infância.

João Amós Comênio foi o primeiro. Ele nasceu na Morávia em 1592 e morreu em 1670. Criou um sistema educacional que influenciou a pedagogia por diversas épocas. Ainda hoje, quando alguns conceitos são debatidos, como, por exemplo, aprendizagem global, democratização do ensino, educação permanente, inclusão e outros, são recorrentes o uso de pressupostos apresentados por Comênio, que atualmente é considerado o fundador da pedagogia moderna.
Sua obra Didática Magna surge em um momento histórico em que a educação era privilégio de poucos, pois a maior parte das crianças somava força no trabalho para garantir a subsistência da família. As ideias proferidas por Comênio pregavam um modelo de educação igual para todos, incluindo portadores de deficiência mental e as meninas, que historicamente sempre foram alijadas do processo educacional.
Comênio também ressalta a importância da valorização docente quando dizia que o professor deveria ser visto como um profissional, e não como um missionário, sendo bem remunerado por seu trabalho. A relação entre aluno e professor, para ele, deveria ser mediada pelos interesses dos alunos e o currículo deveria atender à necessidade tanto dos alunos quanto dos professores, respeitando seus limites. Com isto, Comênio inaugurou uma nova concepção de infância.
Johann Heinrich Pestalozzi foi considerado o pedagogo da humanidade. Ele acreditava que a escola deveria inspirar-se nos princípios de um lar. Para ele, a escola deveria aproximar-se de uma casa bem organizada, pois o lar era a melhor instituição de educação, base para a formação moral, política e religiosa.
Sua primeira atividade educacional foi em 1798, quando muitas crianças ficaram abandonadas, sem pais, casa, comida ou abrigo, por causa da invasão francesa. Pestalozzi reuniu muitos deles num convento abandonado, e gastou suas energias educando-os.
O principal objetivo de Pestalozzi era de integrar as crianças pobres, com poucos recursos, à vida social. Para isso, o método criado por ele consistia no ensino de um ofício.Um dos principais valores desse pensador foi o seu interesse por uma educação equalitária, ou seja, uma educação para promover as pessoas marginalizadas pela sociedade. Ciente da função social da escola, acreditava na difusão do saber universal a todas as classes sociais, como condição para se alcançar a dignidade humana. A educação prática refere-se ao aprender trabalhando, fazendo. Nesse sentido, Pestalozzi preocupou-se em relacionar conhecimentos e atividades práticas.

Friedrich Froebel nasceu na Alemanha em 1782 e morreu em 1852, deixando uma contribuição especial para a educação infantil. Segundo Aranha (2006, p.210) "sua principal contribuição pedagógica resulta da atenção para com as crianças na fase anterior ao ensino elementar; ou seja, a educação da primeira infância". Froebel foi pioneiro na criação dos Kindergarden, os jardins de infância. Acreditava que os primeiros anos da criança eram fundamentais para o seu desenvolvimento e por isso fazia uma alusão ao professor como o jardineiro que precisava cultivar as plantas de um jardim.
Froebel privilegiava a atividade lúdica. Ele foi também o primeiro educador a utilizar o brinquedo de forma intencional como atividade nas escolas, pois acreditava que o lúdico favorecia o desenvolvimento das atividades. As ideias de Froebel, até hoje, estão difundidas pelos jardins de infância no mundo todo.
Ele concebe a criança como dotada de autoatividade, ou seja, pela ação, ela expressa intenções em contato com o mundo externo. Sua prática educativa tinha como princípio: o exercício da cooperação e ajuda mútua, valorização de atividades espontâneas, como jogos, dramatizações, mímicas e movimentos livres. Acreditava no potencial do brincar como forma educativa.

Para saber mais sobre outros personagens que contribuíram para a construção da concepção de infância, acesse o site:
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes-especiais/022.shtml 



3. Cuidar e educar
Nos últimos anos, os debates ace rca da educação infantil, tanto em âmbito nacional quanto internacional, têm apontado para a necessidade das instituições incorporarem de maneira integrada o cuidar e educar.

A revista eletrônica "Zero a Seis" publicada pelos alunos da UFSC traz na sua edição de dezembro de 2001 uma reportagem sobre o cotidiano da educação infantil, onde é possível verificar as charges do cartunista Francesco Tonucci que refletem sobre as funções de cuidar e educar. Vale a pena conferir!
No entanto esta nova visão enfrenta grandes barreiras diante da história do atendimento às crianças pequenas, que apresenta, ao longo dos anos, concepções sempre relacionadas à sua finalidade social, voltada principalmente para o atendimento de crianças pobres, em cunho meramente assistencialista, compensatória.
De acordo com o RCNEI, "modificar essa concepção de educação assistencialista significa atentar para várias questões que vão muito além dos aspectos legais" (BRASIL, 1998, p. 17), ou seja, embora tenhamos uma ampla legislação na área da educação infantil, ela não tem assegurado a qualidade no atendimento a estas crianças. Tal qualidade passa necessariamente pela reflexão acerca da concepção de infância, para que compreendamos a criança com quem estamos trabalhando enquanto ser inserido num contexto sócio-histórico e pela compreensão de que a educação infantil deve promover a integração dos diversos aspectos, sendo eles físicos, emocionais, afetivos, cognitivos e sociais.
Atualmente, os documentos oficiais têm apontado para a necessidade das instituições incorporarem o cuidar e o educar de forma integrada, e não dividida ou fragmentada. Isto significa superar velhas práticas em que se hierarquizam estas funções. Ao analisar o cotidiano da educação infantil, pode-se verificar um descompasso entre as conquistas legais e teóricas e as práticas pedagógicas que se fazem. A começar pelo conceito errôneo das funções da educação infantil presente em muitas instituições, onde é comum verificarmos o discurso de que a creche é o período em que apenas se cuida da criança, e que a pré-escola é o período em que se educa. Tal compreensão precisa ser modificada, atendendo aos novos padrões de qualidade da educação infantil que consideram o cuidado e a educação funções indissociáveis durante toda a educação infantil.
4. O Brincar

O que você vai fazer na escola com essa idade, menina?
- Tia, eu vou brincar!
Que bom seria se pudéssemos ouvir essa resposta na boca de todas as crianças! Mas, infelizmente, sabemos que nem sempre é assim, porque muitas crianças ainda passam por muitas adversidades no espaço de educação infantil. A falta de capacitação de muitos profissionais pode tornar o espaço escolar um desastre. Mas do outro lado, o compromisso, dedicação e, é claro, a capacitação pode tornar esse espaço um universo de encontros, de descobertas e desenvolvimento.
Uma das questões amplamente discutidas na atualidade é a importância do brincar na educação infantil. Brincar não é "perda de tempo", não significa apenas divertir-se, mas constitui uma das formas mais complexas em que a criança aprende a comunicar-se consigo mesma e com o mundo que a circunda.
Brincar é fundamental para o desenvolvimento infantil, sendo um meio de proporcionar a educação integral através de situações naturais de aprendizagem. Ao observar uma criança brincando, o adulto pode compreender como ela vê, explora e constrói o seu mundo, incorporando e questionando regras e papéis sociais.
Para ilustrar a importância do brincar para a criança, observe as imagens abaixo: a primeira é de uma criança palestina sobre os escombros do que era a sua casa, e a segunda, de duas crianças sobre as ruínas de um desastre natural. O que se observa? Mesmo em meio a um cenário que provavelmente deve trazer a elas lembranças de dor e sofrimento, observamos brincadeiras e sorrisos.
Assim como o adulto precisa trabalhar para crescer e se desenvolver como pessoa, a criança também precisa brincar para crescer e se desenvolver. Brincar não é uma escolha, mas é uma necessidade para a criança, por isso não é difícil observarmos crianças brincando, quer seja na pobreza, na miséria ou na desgraça.
Enfim, brincar é coisa séria! Diante disso, o espaço de educação infantil pode e deve ser um lugar suscitador de desenvolvimento com muitas e muitas brincadeiras!!!
Os espaços precisam ser estruturados com materiais adequados e acessíveis ao alcance das crianças, sendo estimulantes, coloridos e alegres. Devem promover a autonomia das crianças, a partir de banheiros adaptados, mesas baixas, enfim, devem ser preparados para convidar a criança ao livre brincar.
Já que compreendemos a importância do brincar, convido você a refletir sobre questões que envolvem o brincar.

Título: Escolhendo o brinquedo certo


Assim como é importante compreender as fases do jogo infantil, igualmente é necessário refletir sobre os tipos de brinquedos que contemplem as diferentes etapas do desenvolvimento infantil. Seguem abaixo algumas sugestões:

De 0 a 4 meses

Algumas vezes, ouvimos pessoas falarem que os bebês não brincam, no entanto precisamos compreender que o brincar nesta fase se dá de forma diferente. Nesta fase, a mãe é uma geradora de prazer para o bebê. As primeiras manifestações lúdicas são basicamente provenientes das relações afetivas, como o embalo, o carinho, o canto, que ele responde com alegria, e seu corpo pode ser considerado o primeiro brinquedo.
Assim, a criança vai pouco a pouco descobrindo através das ações não intencionais, ou seja, dos movimentos, o seu corpo, a primeira forma de jogo, que nesta fase consiste na exploração sensorial e cinestésica.
Móbiles pendurados no berço ou no teto é uma opção interessante para esta idade por desenvolver a percepção visual, assim como chocalhos macios manipulados por um adulto também colaboram para o desenvolvimento auditivo. Outro brinquedo interessante são os rolos de espuma que estimulam a movimentação e a sustentação da cabeça e do tronco do bebê.

De 4 a 6 meses

Embora as brincadeiras da fase anterior permaneçam, nesta idade, o bebê torna-se mais expansivo e expressivo, sorrindo, balbuciando, rolando e erguendo a cabeça. Surgem as primeiras ações intencionais nas quais a criança desenvolve a coordenação óptico-manual e a preensão palmar, ou seja, a criança começa a estender as mãos para buscar determinado objeto e levá-lo à boca. Por isso deve-se ter o cuidado com os brinquedos apresentados, verificando sempre se não possuem peças pequenas que podem ser engolidas, se a tinta é atóxica, se o material não é cortante ou qualquer outra coisa que possa representar perigo à integridade da criança.
Os brinquedos de maior interesse nessa fase são argolas, objetos de borracha para morder, acessórios de berço coloridos e com espelhos, chocalhos, móbiles sonoros, brinquedos com formas e texturas variadas, bichinhos de pano e de vinil, tapetes coloridos e outros brinquedos para olhar, ouvir, pegar e morder.
É comum a criança, nessa idade, pegar o brinquedo e logo soltar ou jogar no chão repetidamente. Embora exija um pouco de paciência por parte do adulto, é uma atividade importante para a criança porque leva à compreensão, aos poucos, de que um objeto pode desaparecer e depois aparecer novamente. Outra brincadeira comum é esconder um objeto embaixo de uma fralda e depois encontrar. Mais tarde, isso o auxiliará a compreender que a mãe pode se ausentar e retornar novamente. Tais brincadeiras levam a criança a obter gradativamente o conceito de permanência do objeto, mesmo que este esteja fora do seu campo visual.

De 7 a 12 meses

Nessa idade, a criança começa a ficar sentada com ou sem apoio e a engatinhar, ampliando com isso o seu campo de ação. A partir do momento em que começam a se arrastar, ampliam-se os horizontes, passando a buscar aquilo que lhe chama mais a atenção. Nesta fase, ela passa a usar as duas mãos e a se interessar por objetos de encaixar, montar uma pilha de objetos e depois derrubar. Como está ampliando o seu leque de sensações, a criança gosta de apalpar tudo o que está ao seu redor.
O tapete de sensações é uma ótima opção, assim como os brinquedos flutuantes para a hora o banho. Dessa forma, a criança aos poucos aprimora a preensão e o controle dos movimentos do braço. Gostam de folhear e rasgar revistas, dos brinquedos que se movem e produzem sons, porque é um desafio, estimulando-a para que tente alcançá-lo, oferecendo oportunidade de manipulação. São exemplos de brinquedos para esta idade: caixas, cubos ou blocos de papelão, plástico ou tecido com tamanhos variados para empilhar, garrafas de refrigerante para rolar, João bobo, luvas de banho e peças para encaixar umas nas outras.

De 12 a 24 meses

Embora o primeiro ano de vida seja uma data de grande comemoração para a família, para a criança não significa muito, pois ela só vai saber da existência do seu aniversário mais tarde, através das fotos e dos relatos. A partir dos doze meses, a criança passa a observar o efeito de sua conduta dentro do ambiente. Com o aprimoramento de atividades como andar, correr e explorar o espaço, as crianças começam a se interessar por brinquedos que possibilitam um desafio maior, como os brinquedos pedagógicos nos quais ela tem que apertar botões para realizar alguma ação; argolas ou cubos de plástico que podem ser encaixados; caixas com objetos para por e tirar, etc.
Ao aprender a andar em torno dos quinze a dezoito meses, a criança começa a desenvolver a confiança e autonomia que será construída ao longo de muitos anos. Brinquedos que estimulam a movimentação da criança, tanto no chão como em pé, são recomendados. São eles: bolas, carrinhos diversos, carrinhos de supermercado para empurrar, brinquedos diversos de puxar e empurrar, túnel para atravessar, percursos motores. Em torno dos dois anos, a criança que já anda passará a se interessar por brinquedos como cavalo de pau, carro em que a criança movimente com os pés no chão, brinquedos de trepar, escorregadores, etc.

O surgimento da linguagem também aparece como elemento essencial para a fase posterior. Em média, o vocabulário de uma criança de dezoito meses é de cinquenta palavras, que se referem a coisas importantes para ela. Por isso, é importante apresentar livros confeccionados com tecido ou outro material resistente. Ao virar as páginas, reconhecer figuras e objetos, a criança é estimulada a desenvolver a linguagem. Conversar e realizar perguntas simples que exijam respostas curtas também são importantes para aumentar o seu vocabulário.
A criança gosta de brincar com lápis e giz colorido, mas para isto move não apenas a mão, mas todo o braço. Por isso, é recomendável utilizar papéis grandes que possibilitem o movimento livre da criança.
No final da fase, a criança começa apresentar comportamentos rudimentares de imitação que vão lançar bases para a fase posterior simbólica. Geralmente, a criança passa a imitar as pessoas em atividades do dia-a-dia, como varrer a casa, telefonar ou ler um livro.


De 2 a 5 anos

A partir desta idade, a motricidade fina passa a ser mais apurada, por isso os brinquedos de encaixe ainda continuam a ser os preferidos. Quanto à linguagem, há uma organização do aparelho fonador, permitindo à criança falar e articular palavras e frases a cada dia com maior facilidade, ampliando consideravelmente o seu vocabulário.
O interesse pelos brinquedos, apresentados aqui como estimuladores nas fases de desenvolvimento da criança até os dois anos de idade, ainda continuará por um período, no entanto, a partir deste momento, em torno de dois anos, a criança entra no universo simbólico.
O pensamento de uma criança nessa fase apresenta algumas características marcantes como: não elaborar conceitos concretos, relacionar tudo o que acontece ao redor com sentimentos e ações, não perceber o ponto de vista dos outros, basear-se em um único aspecto de uma situação, acreditar que plantas e objetos podem ter sentimentos.
Em torno de cinco anos, a criança desenvolve o poder de argumentar de acordo com a própria lógica, que muitas vezes é diferente da lógica do adulto. Nesta idade, a criança já compreende regras, classifica cores e formas e forma alguns conceitos.
Assim, até os cinco anos as crianças apreciam brinquedos como: fantoches, máscaras, dedoches, fantasias, bonecas do sexo masculino e feminino, bichos de pelúcia e de pano, objetos do cotidiano, como telefone, vassoura, e outros, miniaturas que representam a realidade, jogos com propostas simples, tais como jogo da memória, dominós, quebra cabeça, lótus, montar e desmontar brinquedos de encaixe e desenhar.
E lembre-se: na educação infantil é comum a disputa por brinquedos. Esses conflitos acontecem em maior ou menor grau e são necessários ao desenvolvimento infantil. Podemos afirmar que essas contrariedades são tão importantes quanto à alegria, a curiosidade e o prazer. Por isso, não desanime, mas entenda esses conflitos como uma construção social.
Para saber mais sobre a escolha do brinquedo adequado, acesse a reportagem "Escolher o brinquedo certo", disponível em:
http://revistaescola.abril.com.br/edicoes/pdf/Esp_015/16_creche_materiais.pdf
Agora que já discutimos um pouco, é a sua vez: Como você observa o brincar na infância? Vá até o fórum e poste suas considerações.

Nenhum comentário:

Postar um comentário