segunda-feira, 24 de maio de 2010

Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca

FUNDAMENTOS E METODOLOGIA DO CUIDAR EDUCAR E BRINCAR

Trabalho apresentado ao Curso Pedagogia da UNOPAR - Universidade Norte do Paraná, para a disciplina Fundamentos e metodologia do cuidar educar e brincar
Tutor de sala: Eliete Santana
Orientador: Prof. Juliana Telles Faria Suzuki

Brinquedo, gênero e educação na brinquedoteca

Os brinquedos e as brincadeiras são importantes espaços para a construção do gênero. Nos processos de socialização e formação da identidade das crianças constroem-se práticas de escolha de brinquedos e de brincadeiras por gênero e por sexo e criam-se os estereótipos.
A partir da teoria pós estruturalista feminista que usa uma concepção de subjetividade precária, contraditória e constantemente se reconstituindo no discurso.
Os resultados indicam a difícil tarefa de eliminar os preconceitos de gênero, que dependem de fatores externos à brinquedoteca, mas há indícios de mudança, reforçando a crença de que é possível adotar uma política de valorização de equidade no brincar infantil, estimulando meninos e meninas a brincarem juntos.
O conceito de gênero (cultura) somava-se ao de sexo (natureza) e não o substituía.
A natureza era uma base sobre a qual significados culturais eram construídos. Gênero era associado, assim, a traços de caráter e a comportamentos, e sexo a corpo e a biologia. A cultura lúdica é masculina porque a criança é menino, percebida como menino age como tal, brinca com outros meninos, recebe objetos destinados aos meninos.
O mesmo ocorre com as meninas, mas, ao utilizar o mesmo brinquedo que a menina, o menino age de forma diferente. Parece ser resultado de uma complexa produção cultural, ligada à construção da personalidade da criança decorrente da socialização, como se nota em uma creche pública paulista, conforme episódio de vídeo disponibilizado pela diretora que participa do grupo de formação na universidade em 2005: um menino, na área da cozinha, pega um prato como se fosse volante; outro, uma boneca, e a utiliza como uma extensão de sua mão para alcançar outro objeto, e um terceiro brinca com uma caixa de manicure, pesquisando dobradiças.
A partir dos 4 anos, os meninos tendem a evitar as "atividades de meninas" e são mais sujeitos à pressão social, a uma tipificação sexual inadequada. Quanto às atividades lúdicas, as preferências entre meninos e meninas são observáveis por volta de 12 meses de idade, tornando-se mais acentuadas ao final do segundo ano e muito evidentes dos 4 aos 6 anos.
Nas situações lúdicas, meninos manifestam maior interesse pelo poder, pelo prestígio e pelo controle das situações. As meninas valorizam a imagem do corpo, as vestimentas, a beleza dos seres e das coisas e interessam-se pelas atividades domésticas, pelo papel da mãe.
Crianças de 3 e 6 anos, quando entram nos grupos de meninos, as meninas tendem a mostrar condutas consistentes e ativas, mais que os meninos quando brincam em grupos de meninas. Uma das características dos grupos mistos é que os meninos, geralmente, dominam as brincadeiras, gerando muita rejeição e enfrentamentos físicos.
As meninas, em situações de desentendimento, utilizam mais argumentação do que os meninos, enquanto para os meninos, o uso de ameaças e força é o comportamento mais freqüente.
As meninas estão mais voltadas para o entendimento e a cooperação, enquanto os meninos dirigem seus comportamentos para fins individuais, procurando realizá-los, sem considerar o interesse do outro.
A escolha por sexo e por gênero de brinquedos e de brincadeiras do universo feminino muitas vezes se restringe à casa e à família, enquanto o masculino se relaciona aos "carrinhos", ao mundo do trabalho. O mesmo foi observado na Brinquedoteca, nos cantos da cozinha e do dormitório, locais em que se concentram e brincam grande número de meninas.
Enquanto crianças de famílias mais pobres não têm acesso ao skate, nas escolas infantis da rede privada, brinquedos como os patins, com funções similares de movimento e equilíbrio, são comuns entre as meninas.
Geralmente, durante as brincadeiras, as meninas adotam papéis de personagens bons, como fada, princesa, etc.; os meninos, de maus. Há exceções, quando uma menina faz a ladra, assumindo o papel típico dos meninos, que preferem os malfeitores. Garantir às meninas o direito de assumir personagens fortes, especialmente maus, é oferecer as condições para a eqüidade de gênero no campo da brincadeira. Os meninos costumam dizer que preferem o papel de mau: porque é mais interessante, tem mais coisas para fazer, não é tão parado.
O brincar assumindo personagens do mundo profissional relacionado aos cuidados e assistência à criança parece ser preferência feminina e corrobora estudos anteriores.

A ludicidade da criança e sua relação com o contexto familiar

Cada vez mais os meios de comunicação veiculam os altos índices de crianças na rua, do trabalho infantil, bem como as numerosas situações de negligência e abusos dos pais em relação a seus filhos.
O lúdico é um instrumento que permite a inserção da criança na cultura. É um facilitador para a interação com o meio, embora seja muito pouco explorado.
Alguns autores que estudam a resiliência apontam para o brincar como um dos fatores de proteção à criança. O brincar é uma atividade culturalmente definida e representa uma necessidade para o adequado desenvolvimento infantil. As crianças violadas em seus direitos deixam de brincar para trabalhar, ocupando papéis familiares que não lhes são próprios.
A pobreza e o preconceito podem ser considerados como fatores que envolvem aspectos tão adversos que muitas vezes se tornam crônicos, interagindo de forma negativa no desenvolvimento da criança.
As crianças se desenvolvem em interação com pessoas, instituições, creches, escolas, comunidades, famílias, entre outras.
O jogo pode estimular e reforçar as situações familiares e comunitárias, assim como estimular as competências cognitivas. O processo de socialização, ao qual se vêem expostas as crianças em situação de pobreza, tem sido descrito como empobrecedor e punitivo. A conseqüência é que as crianças não se desenvolvem bem nas tarefas da vida. Uma das áreas em que a pobreza tem interferido é a do desenvolvimento das crianças, conforme se verifica com a ausência do jogo sociodramático ou jogo de regras. Percebe-se que essas crianças têm prejuízos no desenvolvimento cognitivo e lingüístico.
Através do brinquedo a criança constrói suas relações com o objeto, relações que constituem esquemas que ela reproduzirá com outros objetos na sua vida futura.
Três grandes vertentes teóricas oferecem subsídios sobre o lúdico, atribuindo a ele significados e funções diferentes: as visões sócio-histórica, cognitiva e psicanalítica.
Para a visão sócio-histórica, o brincar ocorre num contexto cultural, sendo impossível dissociar afeto e cognição, forma e conteúdo, da ação humana.
Na perspectiva cognitiva, o brinquedo e o ato de brincar, constituem-se em vínculos importantes na construção do conhecimento, pois o sujeito internaliza sua realidade através da simbolização.
A psicanálise remete o brincar ao inconsciente. As crianças têm prazer em todas as experiências de brincadeiras físicas e emocionais.
O papel dos pais, além de ser o de prover bens, sustento dos filhos, educação informal e preparo à educação formal, consiste em transmitir valores culturais de diversas naturezas.
A interação direta dos pais com seus filhos, hoje é restrita a períodos de tempo curtos, com interações familiares que podem ser caracterizadas como de baixos níveis de interação face-a face em atividades compartilhadas.
As famílias em situação de pobreza se encontram em situações de risco, pois vivem sem o apoio de parentes vizinhos e amigos, para superar os momentos de estresse.
A pobreza está associada a um aumento da incidência tanto de problemas socioemocionais como cognitivos. A privação econômica e a pobreza afetam as crianças indiretamente, mediante seu impacto no comportamento dos pais, impacto que depende da qualidade das relações entre a mãe e o pai.
Os estudos com crianças em situação de risco, de modo especial em situação de pobreza, geralmente baseiam-se em delineamentos descritivos e exploratórios, procurando caracterizar seu desenvolvimento socioemocional dentro de parâmetros contextuais sócio-histórico-culturais. Nessa teoria há quatro dimensões dinamicamente relacionadas, as quais representam características do processo evolutivo para todas as fases do ciclo vital:
O microssistema refere-se àqueles ambientes onde a interação ocorre face a face, entre a pessoa em desenvolvimento e os outros, assim como entre ela e objetos e símbolos.
O mesossistema é definido como a interligação dos diversos microssistemas aos quais pertence a pessoa em desenvolvimento, ocorrendo relações que resultam na composição de uma rede de microssistemas. A família, a escola, os vizinhos e os grupos comunitários podem integrar o mesossistema.
O exossistema refere-se ao espaço de interação e convivência onde a pessoa em desenvolvimento não se encontra presente, mas no qual sofre a influência direta da dinâmica de interações de quem dele participa.
O macrossistema: representa a cultura na qual está inserida a pessoa em desenvolvimento; refere-se ao conjunto de crenças e valores, às regras e aos papéis esperados e difundidos dentro deste contexto mais amplo, além dos aspectos econômicos, sociais e históricos.
A análise do contexto e processo pode vir a fornecer dados que permitam a implantação de estratégias que visem uma maior interação entre os sistemas nos quais a criança está inserida.



REFERÊNCIAS:

Brougère, G. (1994). Brinquedo e Cultura. São Paulo: Cortez.

Nunes, T. (1994). O ambiente da criança.

Telles Faria Suzuki, Juliana. Educação de criança de 0 a 5 anos