sexta-feira, 29 de abril de 2016

Alfabetização e Letramento

Alfabetização e Letramento: Contribuições Teóricas

A palavra mágica

Certa palavra dorme na sombra
de um livro raro.
Como desencantá-la?
É a senha da vida
a senha do mundo.
Vou procurá-la.
Vou procurá-la a vida inteira
no mundo todo.
Se tarda o encontro, se não a encontro,
não desanimo,
procuro sempre.
Procuro sempre, e minha procura
ficará sendo
minha palavra.
(Carlos Drummond de Andrade)

Olá!

Estamos aqui para aprender um pouco mais a respeito da Alfabetização e Letramento. Tenho plena convicção de que vocês estão se dedicando ao máximo para aperfeiçoarem teórica e metodologicamente esses dois processos.

Você deve estar curioso para saber sobre as temáticas que trataremos nestes encontros sobre Ensino e Alfabetização, não é mesmo? Imagino que já tenha pensado muitas vezes sobre o papel da linguagem escrita: “Não é papel da escola ensinar a ler e a escrever?” Pelo menos é isso que os pais, em especial aqueles das crianças um pouco maiores da Educação Infantil, vivem cobrando! Eles dizem que não vão trazer as crianças só para ficar brincando na escola. Bem, é natural essa sua ansiedade, principalmente diante da reivindicação dos pais. E essa exigência deles não é à toa, não é mesmo? Na verdade, eles estão preocupados com que seus filhos apropriem esse conhecimento que tem um valor tão grande na nossa cultura! Algumas vezes eles próprios não dominam essa linguagem e sentem, “na pele”, como isso lhes torna a vida mais difícil. São tantos os momentos em que saber ler e escrever é importante!

Pois bem, com certeza somos capazes de compreender essa cobrança dos pais, mas “cada coisa no seu tempo e no seu lugar”, não é assim que diz a sabedoria popular? Então vamos nestes encontros buscar compreender melhor qual é o tempo e o lugar da linguagem escrita na Educação Infantil. Esperamos que, a partir das nossas discussões, você consiga se sentir seguro para, enquanto profissional dessa área, conversar com os pais sobre a forma como você está atendendo às reivindicações deles, por meio de um trabalho consciente, fundamentado em estudos e pesquisas, que leva em conta as necessidades e os interesses das crianças. Então, vamos em frente? Antes de caminharmos em nossa leitura, gostaria de propor alguns questionamentos.



Com certeza, a partir dessa atividade, você se deu conta de uma série de momentos em que precisa utilizar a linguagem escrita. E, muitas vezes, você faz isso de forma tão automática que nem percebe como a escrita faz parte de sua vida. Mas, mesmo que não tenhamos consciência clara sobre isso, sempre temos um “para quê” ao ler ou escrever, ou melhor, temos um objetivo, que nos leva a fazer uso da linguagem escrita nas nossas práticas sociais. A linguagem escrita exerce diferentes funções sociais, como:


Se perguntássemos a diferentes pessoas teríamos diferentes respostas para essas perguntas. Especialmente acerca do que significa ser alfabetizado. O termo “alfabetização” é muito mais familiar que o termo “letramento”. Apesar de ambos relacionarem-se constituem processos distintos e complementares. Iremos concentrar nosso estudo no processo de alfabetização. Quando pensamos em alfabetização, temos que pressupor que vivemos numa sociedade grafocêntrica, isto é, uma sociedade centrada na cultura escrita. Partindo disso, ser alfabetizado, além de ser uma necessidade individual do sujeito, é, também, condição indispensável de cidadania. Historicamente, a alfabetização enquanto processo pedagógico constituiu demandas específicas. Hoje, ser alfabetizado, ou seja, saber ler e escrever, tem se mostrado como condição insuficiente às demandas contemporâneas. O sujeito precisa ir além do codificar e decodificar o sistema de escrita. É preciso que ele faça o uso da leitura e da escrita no cotidiano e aproprie-se da função social que reveste essas duas práticas. Dizemos, então, que é preciso letrar-se.

Vamos entender uma parte do processo de inserção do sujeito nessa sociedade grafocêntrica: o processo de alfabetização. De um modo muito amplo, podemos dizer que alfabetização é a ação de ensinar/aprender a ler e escrever. Envolve, pois, habilidades muito específicas. Muitos autores colocam que a alfabetização envolve a tecnologia da escrita. Alfabetização é a ação de alfabetizar, de tornar "alfabeto". Causa estranheza o uso do termo "alfabeto", na expressão "tornar alfabeto", não é mesmo? É que dispomos da palavra analfabeto, mas não temos o contrário dela: temos a palavra negativa, mas não temos a palavra positiva. Vamos analisar a etimologia do termo “alfabetização”:

Do ponto de vista linguístico, ler e escrever é aprender a codificar e decodificar o código alfabético. Em outras palavras mais simples: alfabetizar é a apropriar-se do código escrito. Essa apropriação indica que para aprender a ler e escrever a criança precisa relacionar sons com letras, para codificar ou para decodificar. Concretamente, na sala de aula, alfabetizar significa, didaticamente, ensinar o aluno a ler e escrever para apropriar e compreender o código alfabético. Assim, convido-os a ler algumas contribuições teóricas acerca da alfabetização. É importante destacar que ler e escrever são processos autônomos, porém complementares. Ler constitui um conjunto de habilidades e comportamentos que envolvem a decodificação de sílabas, palavras, textos e livros. Além disso, esse processo de alfabetização envolve muitos outros conhecimentos inter-relacionados, entre os quais podemos destacar como alguns exemplos: imagem corporal, aspectos neurológicos, autoestima e afetividade. Podemos afirmar que envolve também aprender a segurar num lápis, aprender que se escreve de cima para baixo e da esquerda para direita (linearidade ocidental da escrita), conhecimento dos aspectos topológicos das letras. Em outras palavras, envolve uma série de aspectos técnicos como “[...] parte específica do processo de aprender a ler e a escrever” (SOARES, 2004, p. 15-7).

“Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é, antes de mais nada, aprender a ler o mundo, compreender o seu contexto, não numa manipulação mecânica de palavras, mas numa relação dinâmica que vincula linguagem e realidade (FREIRE, 2001, p. 34)”.

“Alfabetizado é aquele indivíduo que sabe ler e escrever; já o indivíduo letrado, o indivíduo que vive em estado de letramento, é não só aquele que sabe ler e escrever, mas aquele que usa socialmente a leitura e a escrita, pratica a leitura e a escrita, responde adequadamente às demandas sociais de leitura e de escrita (SOARES, 1998, p. 22)”.

"Temos uma imagem empobrecida da língua escrita: é preciso reintroduzir, quando consideramos a alfabetização, a escrita como sistema de representação da linguagem. Temos uma imagem empobrecida da criança que aprende: a reduzimos a um par de olhos, um par de ouvidos, uma mão que pega um instrumento para marcar e um aparelho fonador que emite sons. Atrás disso há um sujeito cognoscente, alguém que pensa, que constrói interpretações, que age sobre o real para fazê-lo seu. Um novo método não resolve os problemas. É preciso reanalisar as práticas de introdução da língua escrita, tratando de ver os pressupostos subjacentes a elas, e até que ponto funcionam como filtros de transformação seletiva e deformante de qualquer proposta inovadora. Os testes de prontidão também não são neutros. (...) É suficiente apontar que a 'prontidão' que tais testes dizem avaliar é uma noção tão pouco científica como a 'inteligência' que outros pretendem medir (FERREIRO, 1999, p. 87)”.

Contudo, alfabetizar não é só o domínio do código escrito. O professor Artur Morais (2004) nos indica que a apropriação do código não é simplesmente codificar e decodificar, já que a criança precisa compreender como funciona o código, ou seja, o sistema de escrita alfabético. Nesse processo, a criança ativamente “decifra” o “segredo do código”. Com isso, queremos ressaltar que alfabetizar não é um processo passivo de apenas apropriar-se, mas, ao contrário, existe toda a construção de hipóteses que o sujeito elabora acerca da compreensão do sistema de escrita. Para descobrir esse “segredo” a criança desvenda dois desafios básicos: a análise fonológica e a análise estrutural das palavras.

Vamos agora concentrar nossa atenção no conceito de letramento. Para Magda Soares, letramento é:

O resultado da ação de ensinar e aprender as práticas sociais de leitura e escrita. O estado ou a condição que adquire um grupo social ou um indivíduo como consequência de ter-se apropriado da escrita e de suas práticas sociais (SOARES, 1998, p. 39).

Podemos pensar o letramento como o uso efetivo da leitura e da escrita no nosso cotidiano. É, portanto, participar ativamente das práticas sociais de leitura e escrita, colaborando com a construção de um projeto de sociedade democrática. Diante dessa colocação, o desafio contemporâneo para a escola é “alfabetizar letrando”. Alfabetizar, na perspectiva do letramento, ou “alfabetizar-letrando” é instrumentalizar e proporcionar às crianças os alunos com o código alfabético para que estejam aptos ao seu uso.

Mas, o que devemos fazer: alfabetizar ou letrar? Importante saber é que os processos de alfabetização e letramento são complementares e indissociáveis. Embora sejam complementares, cada um possui sua especificidade. Assim, esclarece a professora Magda Soares:

Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas, linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no mundo da escrita ocorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita (SOARES, 2004, p. 14).

Para saber mais: Poema Letramento Kate M. Chong endereço: YOUTUBE.


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